Introdução
This article was first published in English here.
No meu post anterior, eu dei uma visão geral do que o Antigo Testamento diz sobre os papéis de gênero e atividades de gênero. Neste post, eu dou uma visão geral do que Jesus diz sobre isso. Será que Jesus dá instruções sobre os papéis de gênero da maneira como os complementaristas entendem: que os homens devem ser líderes e as mulheres devem ser submissas à autoridade masculina? Será que Jesus afirma a idéia, evidente no Antigo Testamento, de que o papel primordial das mulheres é ter filhos?
Pares de gênero no evangelho de Lucas
Jesus reconhece as atividades de gênero em sua cultura.
Algumas vezes, Jesus reconhece implicitamente que existem algumas atividades em sua cultura que estão mais intimamente associadas às mulheres e outras que estão mais intimamente associadas aos homens. Nós vemos isso especialmente no Evangelho de Lucas, onde Jesus às vezes usa pares masculinos e femininos em suas parábolas e em alguns momentos de seus ensinamentos.
Em Lucas 13, por exemplo, Jesus conta a parábola de um homem plantando um grão de mostarda, seguido pela parábola de uma mulher que acrescenta fermento à farinha ao preparar pão para assar. Essas eram duas atividades que homens e mulheres que ouviam a Jesus poderiam identificar, mas o objetivo das parábolas é exatamente o mesmo. Então, enquanto Jesus estruturou seus ensinamentos de uma maneira sensível à cultura de seus dias, ele não tinha um conjunto de ensinamentos para homens e outro para mulheres. Ele ensinou as mesmas coisas a homens e mulheres.
O que é ainda mais notável sobre Jesus, é que, algumas vezes, ele minimiza os papéis culturais aceitos para as mulheres e oferece algo melhor.
Maria e Marta
Aprendendo como um discípulo é mais necessário do que estar na cohinza.
Na bem conhecida história de Maria e Marta, Jesus não defende o papel socialmente respeitável e esperado das mulheres de prepararem e servir comida—e a hospitalidade era praticamente um dever sagrado nessa cultura. Jesus não atendeu ao pedido de Marta de levar Maria para a cozinha.
Lucas 10:39, diz que Maria “sentou-se aos pés do Senhor, ouvindo sua palavra”. Jesus observa que Maria havia escolhido a melhor opção, a opção necessária, sentando-se a seus pés, a postura habitual de um discípulo do sexo masculino aprendendo de um rabino. Jesus considerou que aprender como discípulo era mais importante para Maria e, por extensão, mais importante para as mulheres do que preparar e servir comida. Além disso, ele diz que o que Maria escolheu, ser treinada como discípula, não será tirado dela.
Maria a mãe de Jesus
Ouvir e obedecer a palavra de Deus é mais abençoado do que ser mãe.
Em outra história, Jesus está ensinando na sinagoga quando uma mulher levanta a voz e diz: “Bem-aventurada é a mãe que te deu a luz e te amamentou” (Lc 11:27). Ter um filho crescido que fosse respeitado e proeminente na sociedade era uma das mais altas honras que uma mulher daquela cultura poderia alcançar: quanto mais honra um filho tivesse, mais honra teria sua mãe. Essa dinâmica ainda é verdade em algumas culturas hoje.
Mas Jesus não afirmou a bênção que a mulher exclamou. Em vez disso, ele respondeu com: “Bem-aventurados são aqueles que estão ouvindo a palavra de Deus e a obedecem” (Lc 11:28). A mãe de Jesus, Maria, foi abençoada. Ela não foi apenas abençoada por causa de seu papel notável como a mãe do Messias, ela foi abençoada porque tinha fé na palavra de Deus. A Bíblia diz sobre Maria: “Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas” (Lucas 1:45). Fé em Deus e na sua palavra é mais precioso do que ser mãe.
Jesus nunca disse às mulheres, seja de forma clara ou implícita, que ser esposa e mãe é o seu papel principal. Mas, por favor, não pense que estou tentando denegrir ser mãe. Eu amo ser mãe e avó. No entanto, Jesus sugere que há mais vida para as mulheres do que a maternidade.
A mulher samaritana
A teologia de Jesus não sustenta estereótipos culturais.
A mais longa conversa entre Jesus e outra pessoa, que está registrada nos Evangelhos, é entre Jesus e a mulher no poço. Jesus e esta mulher samaritana tiveram um encontro que quebrou alguns tabus sociais (assim como outros encontros entre Jesus e mulheres) e eles discutem teologia e questões pessoais.
João não registra em seu Evangelho que Jesus fala sobre maternidade com a mulher samaritana. De fato, nenhum escritor do Evangelho registra que Jesus discute maternidade com mulheres. E Jesus não dá ensinamentos teológicos simples às mulheres. Ele ensina-lhes as mesmas coisas, no mesmo nível, como ele ensina os homens, por exemplo, João 11:27, cf. Mateus 16:16.
Jesus e suas muitas discípulas
Jesus fez outras coisas com as quais alguns complementaristas podem ter problemas, como o fato de que ele aceitou o apoio financeiro de suas muitas discípulas (Lc 8:1-3), ou mesmo que ele teve muitas discípulas, mulheres que viajaram com Jesus ao redor da Galiléia e seguiram todo o caminho para Jerusalém com ele, onde elas continuaram a prover para ele. Depois de sua ressurreição, Jesus encarregou sua discípula Maria Madalena de dizer aos outros que ele havia ressuscitado da morte.
Jesus acolheu as mulheres e as tratou como seres humanos capazes, e as treinou para o ministério. Mas alguns complementaristas parecem mais com os homens dos Evangelhos que desaprovaram (Mc 14:6; Jo 12:7), e não crêram (Mc 16:10-11; Lc 24:10-11), no ministério feminino. Parece que eles não sabem o que fazer com mulheres ministras.
Chamada e autoridade
Jesus reconhece alguns estereótipos culturais das atividades das mulheres em suas parábolas e ensinamentos, mas não afirma que essas são regras para viver. E há outros estereótipos que ele minimiza. Ele diz que há melhores maneiras para as mulheres viverem. A saber, ser um discípulo de Jesus, aprendendo e obedecendo à sua palavra, é a mais alta vocação para as mulheres, assim como é para os homens.
Jesus é nosso Senhor, nosso Pastor e nosso Mediador, isso não é papel dos maridos. Jesus nunca aborda o assunto de maridos como líderes ou de esposas como submissas. Mas ele fala sobre liderança, onde ele adverte os discípulos sobre títulos e ter autoridade sobre os outros. Ele lembra seus discípulos que eles são todos irmãos e irmãs. Infelizmente, a compreensão de Jesus sobre liderança e comunidade raramente, ou nunca, foi plenamente realizada.
Os doze discípulos
Os doze não é um modelo de liderança exclusivamente masculina na igreja.
Um argumento que é freqüentemente usado para alegar que mulheres não podem ser líderes na igreja. É o fato de que Jesus escolheu doze homens, como seus primeiros discípulos, e não uma mulher solteira.
Jesus nunca disse que escolheu os doze como modelo de liderança da igreja. Ele nunca disse que apenas homens poderiam ser líderes na igreja. Mas o que Jesus fez é estabelecer uma conexão entre os doze discípulos e as doze tribos de Israel (Mt 19:28; Lc 22:29-30; cf. Apoc 21:12 e 14). Ele pode ter escolhido os Doze como forma de mostrar que sua mensagem, seu ministério e sua Nova Aliança foram para todo o Israel.
Além disso, ele não poderia ter escolhido Judas Iscariotes para ser um líder da igreja. A escolha de Judas Iscariotes torna ainda menos convincente o argumento de que Jesus escolheu os Doze como um modelo para a liderança da igreja. Há também algumas outras coisas que tornam o argumento insustentável. Especialmente se tivermos em mente que Jesus treinou mulheres como suas discípulas.
Conclusão
As palavras de Jesus, conforme registradas nos Evangelhos, não se assemelham em nada com a afirmação dos complementaristas de que Deus projetou homens para serem líderes e mulheres para serem submissas à autoridade masculina. Em vez disso, Jesus falou às mulheres como falava aos homens, com uma teologia franca e vital. Ele tratou as mulheres com dignidade e teve um interesse genuíno em seu bem-estar. Além disso, as mulheres estavam entre os discípulos mais fiéis de Jesus e ele aceitou o apoio e ministério delas.
No meu próximo post, analisarei o que Paulo diz sobre os papéis complementares de gênero no ministério e no casamento.
© 29 de maio 2018, Margaret Mowczko
Traduzido por Orlando Paulo Correia Reimão
Parte 1: Papéis de gênero e atividades de gênero no Antigo Testamento
Parte 3: Paulo sobre papéis de gênero no ministério e no casamento
Mais artigos em português aqui.
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