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Paulo sobre papéis de gênero no ministério e no casamento

Apostle Paul and women, gender roles, women in the New Testament

This article was first published in English here.

1. Paulo sobre as mulheres no ministério

Alguns versos nas cartas de Paulo são freqüentemente citados pelos cristãos que excluem as mulheres de certos ministérios. Mas Paulo restringiu o ministério das mulheres? Qual foi a atitude dele em relação às mulheres ministras?

Tal como nos dois posts anteriores (parte 1 e parte 2), este artigo fornece uma breve visão geral sobre “papéis de gênero” em vez de informações detalhadas. Por favor, clique nos links se você quiser mais informações.

A terminologia de Paulo para companheiros de ministério

Paulo considerava como colegas, tanto os homens como as mulheres que ministravam ao lado dele, e várias veses ele usou os mesmos termos ministeriais tanto para ministros do sexo feminino como para ministros homens. Até onde sei, Paulo é o único escritor cristão antigo a fazê-lo. Inácio, escrevendo por volta do ano 110, por exemplo, menciona mulheres que eram ativas no ministério na igreja em Esmirna, ele até cita alguns nomes, Alke e Gavia, mas Inácio não dá a essas mulheres nenhum título ministerial.

Os termos de Paulo preferidos e mais usados ​​para os (homens e mulheres) ministros são (1) cooperador, (2) irmão ou irmã, (3) ministro ou diácono (isto é, diakonos) e (4) apóstolo. [1] Evódia, Síntique e Priscila são três exemplos de cooperadoras de Paulo. Áfia e Febe são chamadas de “irmãs” por Paulo. Ele também chama Febe de “diakonos da igreja em Cencréia” (Rom 16:1-2). E ele diz que Júnia é notável, ou bem conhecida, entre os apóstolos (Rom 16: 7).

Há pouca dúvida de que havia mais ministros do sexo masculino do que ministros do sexo feminino no primeiro século. Mas, diferentemente do que alguns cristãos dizem, o Novo Testamento simplesmente não declara que uma mulher não pode ser um pastor ou ancião, etc. (Paulo não identifica nenhum ministro cristão, homem ou mulher, individualmente, com as palavras “pastor” ou “ancião” ou “bispo” em suas cartas). Em nenhum lugar das cartas do Novo Testamento, as mulheres são proibidas de exercer qualquer função de ministério legítimo.[2]

Além disso, ao contrário da convenção cultural da época, Paulo raramente descreve as mulheres por seus laços familiares. Muitas mulheres são mencionadas nas cartas de Paulo sem serem identificadas com um parente do sexo masculino. E, com algumas exceções, não temos idéia se alguma das vinte e tantas mulheres associadas a Paulo (no livro de Atos e em suas cartas) teve filhos. É significativo que Paulo se refira principalmente às mulheres em termos de fé e ministério.

As proibições em 1 Timóteo 2:12 e 1 Coríntios 14:34-35

Paulo acolheu e valorizou as mulheres como cooperadoras do evangelho. Então, o que fazemos com 1 Timóteo 2:12 que diz: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem . . .”? Uma coisa que precisamos ter em mente é que 1 Timóteo era uma carta circustancial. Muitos cristãos lêem 1 Timóteo pensando que ela contém conselhos gerais ou instruções gerais, mas na maioria das vezes não. Foi uma carta ocasional escrita para uma igreja específica, pessoas específicas e questões específicas. Uma dessas questões foi o mau ensino e comportamento de uma mulher de Eféso, e esse mau comportamento é abordado em 1 Timóteo 2:11-15 .

Da mesma forma, a declaração em 1 Coríntios 14:34s , ” permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas . . .”, aborda o discurso desordenado e incômodo de algumas mulheres de Coríntios, isto se assumirmos que foi Paulo quem escreveu estas palavras. Alguns capítulos anteriores, em 1 Coríntios 11, Paulo reconhece que as mulheres de Coríntios oraram e profetizaram em reuniões da igreja, e ele não as silenciou (1 Co 11:5). E nos capítulos 12 e 14 de 1 Coríntios, Paulo menciona vários ministérios, alguns dos quais vocais, e não diz que são apenas para homens (por exemplo, 1Co 12: 7-11, 28; 14:26). Isto ocorre em outras cartas de Paulo também; ele não lista dons espirituais ou ministérios, como: ser um profeta, mestre ou apóstolo, e então diz que são apenas para homens.

É um erro terrível, uma praga nas igrejas, quando pensam que 1 Timóteo 2:12 e 1 Coríntios 14: 34-35 restringe de qualquer tipo de ministério, mulheres piedosas, talentosas e capazes.

2. Paulo no casamento cristão

Mas e no casamento? Existem papéis de gênero no casamento? Paulo ensina que os maridos são os líderes ou autoridades das suas esposas, como afirmam os complementaristas? Ele ensina que as esposas devem ser submissas aos seus maridos?

Submissão feminina ou submissão mútua?

Começarei com a última pergunta: Paulo ensina que as esposas devem ser submissas aos seus maridos? Sim ele ensina . . . a seus próprios maridos. Mas se a submissão da esposa for estendida para significar que as mulheres em geral devem ser submissas aos homens em geral estaremos ultrapassando o que diz em Efésios 5:22 , por exemplo.

Por outro lado, no entanto, ser submisso é um comportamento cristão muito parecido com ser humilde ou atencioso (por exemplo, Filipenses 2:2-4). É um comportamento para todos os cristãos, não apenas para as esposas. Vemos isso em Efésios 5:21, onde se lê: “Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo”.

Essa ideia de submissão mútua entre os crentes também ocorre nas primeiras cartas cristãs não incluídas no Novo Testamento.

  • A Primeira Epístola de Clemente, uma carta escrita da Igreja de Roma para a Igreja de Coríntios em torno do ano 90, diz: “Vós todos ainda possuíeis sentimentos de humildade, isentos de qualquer vaidade, mais dispostos a submeter-vos do que a submeter, tendo mais prazer em dar do que receber . . .” (1 Clem 2:1). Eu acredito que este verso captura a essência da submissão cristã.
  • Algumas décadas depois, Inácio, bispo de Antioquia na Síria, escreveu à igreja em Magnésia e declarou: “Submeta-se ao bispo e uns aos outros” (IgnMag 13:2). “Um ao outro” (allēlois) neste verso é idêntico à palavra em Efésios 5:21. (A palavra grega para “um ao outro” tem o sentido de reciprocidade e é um pronome recíproco).
  • Depois de Inácio, Policarpo, bispo de Esmirna, escreveu aos filipenses e insistiu: “Todos vocês se sujeitem uns aos outros” (PolFil10:2).[3]

Ser submisso não é um papel de gênero. Não é nem um papel. É uma atitude e um comportamento para todos os irmãos e irmãs em Cristo, sendo a submissão recíproca mútua o ideal. A submissão mútua não era um conceito estranho na primeira igreja do início do segundo século, e deveria ser a norma na igreja hoje.

Liderança masculina ou amor mútuo?

Então, o que dizer da ideia de que maridos ou homens são líderes? O que significa dizer: “o marido é o cabeça da mulher” em Efésios 5:23? No primeiro século, a palavra grega para “cabeça” raramente, ou nunca, se referia a uma pessoa com autoridade. Então, quando Paulo diz “o marido é o cabeça da mulher”, ele não está dizendo que o marido é o chefe de sua esposa. Em vez disso, ele está usando uma metáfora onde cabeça e corpo significam unidade. A cabeça pode ser mais proeminente que o corpo, mas essa metáfora não é sobre autoridade.

Ao contrário de outros escritores gregos contemporâneos, como Plutarco, que escreveu que os maridos eram os governantes de suas esposas, Paulo não utiliza, referindo-se aos maridos, nenhuma das muitas palavras gregas usuais que significam líder ou governante ou autoridade. Nenhum autor do Novo Testamento o faz. Antes, em Efésios 5:22-33, Paulo usa verbos que significam apoio, amor, incentivo e união. Apoio e unidade são os temas em Efésios 5:22-33. Não autoridade.

Em Colossenses 3:18-19, as instruções para esposas e maridos são muito mais curtas do que em Efésios 5, e não há dúvidas sobre o significado: “Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como convém a quem está no Senhor. Maridos, amem suas mulheres e não as tratem com amargura.” É isso! Não há menção de liderança ou autoridade aqui ou em Efésios 5.[4] E lembremos que esses versículos são particularmente sobre casamento, não sobre homens e mulheres em geral.

Também quero salientar que as instruções sobre o amor dadas aos maridos em Efésios 5 são quase idênticas, palavra por palavra, às instruções sobre o amor dadas a todos os cristãos no início do capítulo 5.

Observe as semelhanças:

“vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós . . .” (Efésios 5:2).
“Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela.” (Efésios 5:25)

Amar sacrificialmente como Cristo amou é a instrução para todos os ouvintes e leitores da carta de Paulo aos Efésios, não apenas para os maridos. Despertar no amor não é um papel de gênero, assim como ser submisso não é um papel de gênero. No entanto, esposas e maridos são destacados com instruções, possivelmente porque a relação matrimonial, idealmente, é uma união especialmente próxima.

Obedecendo mães e mestres femininas

Efésios capítulos 5-6 e Colossenses 3 não abordam apenas esposas e maridos. Nestas passagens, as crianças são instruídas a obedecer a seus pais, tanto a pai como a mãe (Efésios 6:1-3; Col. 3:20). No mundo greco-romano do primeiro século, esperava-se que todas as crianças – incluindo, ou especialmente, os adolecentes – obedecessem aos pais. Em algumas culturas de hoje, ainda se espera que os jovens sejam obedientes aos pais. É importante ressaltar que não há hierarquia de gênero ou preferência dada em Efésios 6 ou Colossenses 3 entre pais e mães. Paulo esperava que filhos adultos honrassem e obedecessem às mães.

Escravos cristãos também são abordados em Efésios 5-6 e Colossenses 3, onde eles são instruídos a obedecer a seus mestres (Efésios 6:5-8; Colossenses 3:22ss). Quando as pessoas pensam em mestres, elas tendem a pensar em homens. Muitos mestres nos tempos do Novo Testamento, no entanto, eram mulheres; e muitas mulheres tinham escravos masculinos. O autor do escrito cristão do segundo século, O Pastor de Hermas, é apenas um exemplo de um homem que foi vendido a uma mestre feminina (HermVis 1:1). Escravos masculinos e mestres femininos foram incluídos nas instruções do Novo Testamento. Paulo esperava que os escravos do sexo masculino obedecessem e fossem submissos a seus mestres femininos.

Como os complementaristas harmonizam suas noções de papéis de gênero com as instruções de Paulo de que crianças (incluindo filhos adultos) devem obedecer a seus pais (incluindo suas mães) e que escravos (inclusive escravos homens) devem obedecer a seus mestres (inclusive mestres femininos)? Os chamados códigos domésticos em Efésios, capítulos 5-6 e Colossenses 3, não descrevem uma hierarquia de gênero, ou papéis de gênero, como a maioria dos complementaristas interpreta.

Conclusão

A Bíblia não ensina nem determina papéis de gênero. Em vez disso, o amor recíproco e a submissão mútua é o ideal no casamento e em todos os relacionamentos entre os companheiros de fé. Além disso, são os dons e habilidades dados por Deus ao indivíduo, que determinam quem faz o quê em qualquer situação, na igreja e no casamento. Tanto no casamento quanto no ministério, o amor deve ser um princípio orientador. (Ver 1 Coríntios 13:1-14:1). Nosso objetivo deve ser “seguir o caminho do amor” porque, como Paulo disse, “o amor não pratica o mal contra o próximo” e é “o cumprimento da lei” (Rom. 13:10). Como todos os outros princípios do Novo Pacto, isso se aplica igualmente a homens e mulheres.


Notas finais

[1] E.E. Ellis observou que “As designações mais frequentemente dadas aos cooperadores de Paulo são em ordem decrescente de freqüência, as seguintes: cooperador (synergos), irmão (adelphos) [ou irmã (adelphē) como nos casos de Áfia e Febe], ministro (diakonos) e apóstolo (apostolos).” Traduzido de: E.E. Ellis, “Paul and his Coworkers”, Dictionary of Paul and His Letters, Gerald Hawthorne and Ralph Martin (eds) (Downers Grove: InterVarsity Press, 1993), 183.

[2] Alguns cristãos acham que as qualificações para os supervisores em 1 Timóteo 3:1-7 e os anciãos em Tito 1:6-9 excluem as mulheres, especialmente as frases “homem de uma só mulher” e “governar bem sua [dele] própria casa”. (Mais informações aqui.)

Dois dos complementares mais proeminentes reconhecem que esta frase não exclui claramente as mulheres. Douglas Moo reconhece que esta frase não precisa excluir “homens ou mulheres solteiros dos cargos. . . seria ir longe demais argumentar que a frase exclui claramente as mulheres. . . .” Traduzido de: Douglas J. Moo, “The Interpretation of 1 Timothy 2:11–15: A Rejoinder,” TJ 2 NS (1981): 198–222, 211.
Thomas Schreiner reconhece: “Os requisitos para os anciãos em 1 Tim 3:1–7 e Tito 1:6–9, inclusive a declaração de que devem ser homens de uma só mulher, não impede necessariamente, por si só, que as mulheres sirvam como anciãs . . .Traduzido de: Thomas R. Schreiner’s “Philip Payne on Familiar Ground: A Review of Philip B. Payne, Man and Woman, One in Christ: An Exegetical and Theological Study of Paul’s Letters,” JBMW (Spring 2010): 33–46, 35.
From Philip Payne’s, Does “One-Woman Man” in 1 Timothy 3:2 Require that all Overseers be Male?

[3] Os capítulos 10, 11, 12 e 14 da carta de Policarpo não sobrevivem no grego. A frase latina pertinente em 10:2 é: Omnes vobis invicem subiecti estote.

[4] As instruções para as esposas em Efésios 5:22-24 e Colossenses 3:18 são dadas no contexto de amor semelhante a Cristo, comportamentos dirigidos pelo espírito e casamento cristão. As instruções para esposas em Tito 2:4-5 e 1 Pedro 3:1-6 são dadas no contexto de comportamentos respeitáveis ​​e expectativas da sociedade greco-romana e casamento com um não-crente.

Imagem

Mosaico de Paulo apresentando Cristo a St Praxedes (que foi martirizado em 165), na Basílica de Santa Prassede, em Roma. Usado com permissão © Sr Anne Flanagan (Fonte)

© 2 de junho de 2018, Margaret Mowczko
Traduzido por Orlando Paulo Correia Reimão

Parte 1: Papéis de gênero e atividades de gênero no Antigo Testamento
Parte 2: Jesus em papéis de gênero e actividades de gênero

Mais artigos em português aqui.

artigos em portugues sobre igualdade entre homens e mulheres no lar e na igreja

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